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sábado, 31 de outubro de 2009

Filosofia - A arte de fazer perguntas

Infelizmente, para muitos, é a arte de chegar com as respostas prontas. O que é lamentável. Não há assunto que seja tabu em Filosofia. Contudo, muitos querem falar de realidade, verdade, essência, fenômenos, lógica dedutiva e indudiva, enfim, querem falar de assuntos complexos, como se estivéssemos filosofando como na época dos gregos. Confundem a palavra Filosofia com as diversas correntes da disciplina. Isso gera toda forma de equívocos. O problema é que muitas pessoas não sabem nem a etimologia da palavra.

Os conceitos em Filosofia são essenciais. Contudo, desde Kant, não há mais conceitos de Filosofia que ultrapassem o mundo dos fenômenos. Filosofar é ir à raiz das questões. Quem vai à raiz, muitas vezes, não encontra a paz. Pelo contrário. O problema é que achamos que a filosofia é única. Esquecemo-nos que existem várias correntes na Filosofia. Cada uma parte de um pressuposto diferente. Enfim, filosofar é fazer uma reflexão profunda sobre todos os aspectos do real. Todavia, vai depender muito da corrente filosófica que a pessoa segue. Se não fosse assim, a Filosofia já teria morrido há muito tempo. Cada resposta em filosofia se torna numa nova pergunta: infinitamente. É por isso, que cada vez que uma disciplina se separa da Filosofia, nasce uma Filosofia dessa disciplina. Outro dia estava lendo algo que me deixou intrigado: a Filosofia da BIOLOGIA. Não conhecia essa área.

Qual é o conceito de verdade que uma pessoa que se interessa pela Filosofia preconiza? É racional, lógica, rigorosa e de conjunto? De que corrente filosófica é o seu conceito de Filosofia? A verdade está no objeto? Está no sujeito? É uma relação sujeito-objeto? É práxis? É histórica? É uma convenção social das comunidades científicas e filosóficas? O que você acha?

É possível falar de um fato sem uma teoria que o sustente? O fato, em si, prova alguma coisa? Ou os fatos são feitos? Eu, particularmente, sigo o método científico. Ele é provisório, mas é o melhor que tem. Melhor, porque evolui. A Filosofia para mim é uma reflexão. É retomar o pensamento sobre si mesmo, para ver se há novas possibilidades. Contudo, essa porta não se fecha. Sempre há novas possibilidades.

Por exemplo, Hegel foi um gigante. Não sou especialista em Hegel, mas não gosto do Idealismo de jeito nenhum. Total inversão de mundo, a meu ver. Viaja nas idéias...
Hegel foi um gênio. Um grande filósofo, sem dúvida. Contudo, construiu um grande castelo de idéias sem relação com a realidade. Karl Marx, sim, usou a dialética nas entranhas do real. Foi à raiz ontológica do ser humano. Ou seja, só se é homem através das relações sociais de produção. Ninguém filosofa com a barriguinha vazia. Deixe o planeta ficar sem produzir durante um mês, para ver o que acontece!! Vou falar um pouquinho das várias concepções do conhecimento, resumidamente, para que possamos ter uma visão panorâmica do assunto.

Os filósofos gregos, de uma maneira geral, eram metafísicos. A realidade era racional e o homem, sendo racional, poderia extrair o conceito de dentro das coisas. Buscavam a essência das coisas no objeto. A pergunta era: como é possível o erro? De uma certa forma, essa maneira de filosofar passou pela Filosofia Medieval. Tanto é que os filósofos medievais buscavam provar a existência de Deus, da alma etc, através da razão. Deus dá a certeza-iluminação-, posteriomente, a razão confirma.

A partir da Filosofia Moderna essa concepção muda. René Descartes desloca a verdade para o sujeito. É o famoso "Cogito, ergo sum": "Penso, logo existo". A única certeza que tenho é que sou uma coisa pensante. Descartes duvidou até do próprio corpo. Mas, não poderia duvidar que existia: nem que fosse como uma coisa pensante. A pergunta é: como é possível a verdade? Passamos por Locke e Hume. Empiristas ingleses. Este último detonou com a metafísica e a própria razão. Tudo o que conhecemos não passa de hábitos e costumes da nossa mente. De um ponto de vista estritamente lógico-dizia ele-, não temos certeza nem que o sol nascerá amanhã. Não entrarei em detalhes. David Hume acordou Kant do seu sono dogmático. Resumindo: Kant questionou Hume e procurou fazer uma síntese entre o empirismo e o racionalismo. O chamado CRITICISMO. Para fundamentar a física, acabou com a metafísica. Em última análise, é o sujeito quem constrói o conhecimento. Só podemos conhecer o mundo fenomenal, ou seja, aquilo que está no espaço e no tempo. Kant abre o caminho para o agnosticismo.

Com Edmund Husserl aparece a FENOMENOLOGIA. Em síntese: toda consciência é intencional, ou seja, toda consciência tende para um objeto. E todo objeto só existe para uma consciência. Não existe a coisa em si ( o númeno) kantiana.

A práxis é um conceito de que todo conhecimento é uma relação dialética entre teoria e prática. Uma aperfeiçoa à outra. O marxismo preconiza essa forma de pensar. Incluindo a idéia de uma verdade histórica, portanto, relativa.

O conhecimento como convenção social é um acordo entre os especialistas sobre o que é verdadeiro. A verdade é uma convenção social. Temos outras, mas fico por aqui. Espero ter contribuído!

Texto: Marco Aurélio Machado

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

IDEOLOGIA E ALIENAÇÃO NA EDUCAÇÃO

Infelizmente, muitas pessoas de boa vontade, inclusive professores, não têm noção de que fazem parte de um esquema ideológico para vender ilusões. O esquema ideológico, atualmente, é a educação. Vende-se a idéia de que com a educação se resolverá todos os problemas. E com isso vem a caça as bruxas. Tem-se sempre que arrumar um bode expiatório. E pessoas alienadas, que não têm consciência de classe, acabam por pensar como se fossem as elites. Não percebem o quão são manipuladas e não se dão conta que defendem interesses, principalmente, de uma classe que deveriam combater.

Hoje, a ideologia é a educação, e os professores são os bodes expiatórios. Sempre foi assim. Quando essa idéia tiver desgastada, vende-se uma outra idéia. O rebanho, para variar, continuará comprando. Queria ter nascido um jumento. Comeria o meu capim e seria mais feliz!

Bom, se estou dizendo isso, é porque este assunto já foi debatido à exaustão. E os atores são sempre os mesmos. Se os "críticos" tiverem uma visão apenas voluntarista e moralista da educação, então, quem está dentro da realidade educacional acaba perdendo o seu tempo. Conversa-se com vários de leigos que não têm noção do que é uma sala-de-aula. Não se discute idéias, debate-se pirraças, geralmente de pessoas frustradas que querem detonar quem tem experiência. Quem sabe o que é a educação é quem lida com ela, não é mesmo? Não em gabinetes, mas dando "duro" dentro de uma sala-de-aula!!

Eu gostaria de ver se daqui a alguns anos os leigos continuarão com esse discurso. Os leigos não sofrem ameaças; não tomam cadeiradas de alunos como eu já vi acontecer com alguns colegas. Leigos, façam licenciatura e vão lecionar!!! As escolas precisam de quem preconiza soluções milagrosas, mas, também, pega no batente mesmo, não precisam apenas de idiotas que ficam a prescrever receitas como se fossem fazer um bolo de chocolate.

O problema da educação também é ontológico. Começa no modo de produção. Não é um discurso marxista. Enquanto olharmos a educação de um ponto de vista voluntarista e moralista, não se resolverá nada. E isso pode levar centenas de anos.

Os professores são mal formados, porque não há nenhuma preocupação de fato para melhorar o ensino. A violência acontece, porque a tecnologia capitalista está a serviço de uma classe, para explorar a maioria. Gerando desemprego, miséria, fome e demais mazelas.

O que faz a ideologia? Inverte a realidade. Desvia o foco para questões morais e voluntaristas. E nós, por sermos alienados, não percebemos a manipulação. A violência não é gratuita. Ela é fruto de um modo de produção perverso que transforma pessoas em objetos descartáveis.

Não há solução neste modo de produção. A não ser a destruição completa do planeta. Sempre aparece um discurso novo. E nós o compramos. Defendemos tais discursos como se fizéssemos parte das mesmas elites que nos explora. As elites vão mostrar a raiz do problema? Os meios de comunicação, que fazem parte das elites e dominam as massas através da ideologia, vão mostrar a raiz? Não! Se não compreendermos a causa do problema, atacaremos sempre os efeitos e pensaremos que os mesmos são as causas. A ideologia tem esse papel. Inverter toda a realidade. O que é uma questão social, econômica e política, mostra como se fosse um problema natural.

Se todos nós parássemos de ler filósofos idealistas e lêssemos e entendêssemos a ideologia e a alienação em profundidade, veríamos as causas dos problemas. Mas, não. Compramos os discursos e os defendemos com orgulho. Queria ser um jumento. Comeria o meu capim e seria mais feliz!(2).


Texto: Marco Aurélio Machado

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

REFLEXÃO FILOSÓFICA SOBRE O AMOR E A PAIXÃO!

O amor é uma ação sem motivo e que não depende do pensamento e nem do sentimento. Se uma pessoa for capaz de amar um único ser neste mundo, amará todo o UNIVERSO. O amor é incondicional; não exige reciprocidade.

Ainda quero encontrar uma só pessoa capaz de amar. Só uma. Mais: fazer o bem neste mundo para querer ganhar mais no PARAÍSO, não é amor. O amor não pode ser meio para coisa alguma, ele foi, é, e sempre será um fim em si mesmo. Quem ama de verdade? Não sei. Nunca conheci ninguém com essa capacidade.

Uma ação dedicada ao próximo tem que ser isenta de querer ganhar um lugar ao lado de Deus. Se quero ganhar, em última análise, amo de verdade? Sou capaz de me sentir UM com o UNIVERSO? Há amor quando digo EU? Posso desfrutar sem querer ser o dono? Difícil, meu caro. Ainda não encontrei o dito(a) cujo(o) que ama. Quem sabe um dia...

Quem busca, acha? Como buscar o que não se conhece? O amor pode ser representado por conceitos? Quem busca, por acaso, não deseja? Quem deseja, não quer satisfazer o desejo? Quem quer satisfazer o desejo, não quer ganhar? Quem quer ganhar, não é egoísta? Quem é egoísta, ama? Como já dizia Krishnamurti:"Se pego o vento, foi mesmo o vento que peguei"?



Para fazer uma analogia: ALGUÉM pergunta às crianças quando brincam, se elas são felizes? Se perguntasse e elas parassem de brincar para responder tal pergunta, elas saberiam dizer? Se soubessem dizer, a representação conceitual seria o mesmo que a felicidade em ato? As crianças são felizes em ato; são inocentes, e mesmo quando "brigam", daí a pouco estão brincando novamente. O que faz um adulto ao ver tal fato? Diz que elas não têm vergonha na cara, pois brigam e daí a pouco estão brincando. Mas quem de fato gera o ódio e a falta de amor no mundo? Por acaso, não são os adultos que ficam ressentidos, magoados e vingativos?

Se fôssemos tais quais as crianças saberíamos o que é o amor; seríamos inocentes, faríamos perguntas inocentes e puras. Mesmo quando brigássemos, logo faríamos as pazes. Teríamos um AMOR em ato. A meu ver, a única forma de amar. Se eu continuo com a idéia de separação, de não ser UM com o Universo, nunca serei capaz de amar verdadeiramente. Eu penso assim, por isso, ainda não encontrei um ser humano capaz de amar. Pode ser que um dia ainda o encontre. Quem sabe...

Quantos dizem ser espiritualistas, amorosos, altruístas, generosos e magnânimos, contudo, na primeira crítica que se faz a tais pessoas, dizem que partimos para o AD HOMINEM, que somos desonestos, colocam o nosso caráter em dúvida, manipulam os incautos com retóricas baratas, enfim, aqueles que mais falam a respeito do amor, da fraternidade e da solidariedade, muitas vezes são os que menos as têm. Daí a importância de não levarmos as comunidades virtuais muito a sério. Podemos "brigar" via Orkut, mas só podemos saber quem é uma pessoa de fato, no convívio social. As atitudes devem ser avaliadas pessoalmente; olhando nos olhos. As nossas atitudes devem confirmar o nosso discurso e não o contrário. Muitas pessoas no Orkut ficariam envergonhadas ao conhecer alguns seres humanos pessoalmente.

Os maiores pilantras e golpistas que têm por aí são DOCES e refinados que é uma "beleza". Quando se pensa que não, já se perdeu tudo para eles. Bens materiais, nesses casos, são o que têm menos valor: a nossa honra e dignidade são os nossos maiores patrimônios.

Para mim o amor está naquele nível que eu coloquei. Há outros sentimentos menos nobres, tal como uma paixão de tirar o fôlego, o carinho, o afeto, a amizade, mas todos eles, a meu ver, não são incondicionais, como é o caso do AMOR. É justamente isso que estamos tentando definir: O QUE É O TAL AMOR? Se eu não sei do que estou falando, como posso me exprimir? Eis a questão. Não é tão simples, aliás, nada em Filosofia é óbvio. A meu ver, não conheço nenhum ser humano capaz de amar no nível que me expressei. Ninguém.

Diante de um amigo numa situação difícil posso oferecer a minha solidariedade, apoio, etc., mas penso que isso está muito longe do tal amor.

Quantas vezes eu já vi alguém dizer que morria de amor por uma pessoa e na primeira oportunidade, se separava... Se o amor acaba, por acaso algum dia foi realmente amor? Eu penso que não. Todavia, por convenção social usamos a palavra amor como se fosse uma palavra qualquer. A minha visão do amor é muito ampla. Ela está relacionada com todos os seres, portanto, não é direcionada a uma pessoa, situação, ou objeto. É ser um com o UNIVERSO. É perder a sensação que temos uma individualidade, um EU separado. É ser um com o UNIVERSO sem a necessidade de um DEUS. Mais: só assim, a meu ver, haveria o amor, pois seria capaz de agir sem esperar nada em troca e sem querer uma vaguinha no céu. Daí a importância de não se colocar uma religião ou DEUS nessa história. O amor é um fim em si mesmo, não pode ser um meio para que eu ame, no íntimo, só o meu umbigo.

Não posso amar como se fosse um jogador de futebol. Beija o escudo de um clube e no outro dia está jurando amor a outro clube, e, assim, até encerrar a carreira...

Um amor direcionado apenas ao outro, na verdade, não é amor, senão vejamos a seguinte situação: suponha que eu "ame" uma pessoa, mas ela não deseja ficar mais comigo. Eu insisto, insisto, peço mais uma chance e a pessoa cede. Eu resolvi o meu problema, mas a pessoa que eu "amo" está triste ao meu lado. Isto é amor? Nunca, pois na verdade eu amo só a mim mesmo; sou um tremendo egoísta, porque por não querer sofrer, faço o outro sofrer, já que a pessoa não deseja mais ficar comigo. Eu gosto de quem na verdade? Gosto de mim, nada mais. É o EU elevado ao simples MEU. Se amasse de fato essa pessoa, a liberaria, mesmo que eu sofresse. Mais: desejaria que ela refizesse a vida e fosse feliz. Quantos são capazes de fazer isto? Poucos. Eu ainda não os conheci.

Agora e se a situação fosse esta: se eu quisesse terminar o relacionamento e a pessoa chegasse antes e terminasse, eu, por acaso, não ficaria feliz? Afinal, eu já queria terminar e a pessoa nem me deu tal trabalho. Mais uma vez eu estou pensando em quem? Em mim, é claro, estarei livre e sem desgaste. Simples! Somos iguais aos sapos: EU, EU, EU, EU, EU, EU, EU, EU. Cadê o outro? Existe como satisfação para meu EGO. E ainda falam sobre o amor.

Eu penso que o amor seja o que escrevi acima, contudo, para mim, tal amor é amor de "anjo". Como não acredito em anjos  nem nos demônios, ficarei com um amor humano e tão somente humano. O que não pode faltar é tesão. O que resto se resolve!!
Texto: Marco Aurélio Machado

terça-feira, 27 de outubro de 2009

SOLIDARIEDADE EGOÍSTA!

Há algum tempo tenho pensado neste conceito e, provavelmente, alguém também já deve ter refletido sobre ele: SOLIDARIEDADE EGOÍSTA. Algumas pessoas ficaram chocadas com o oximoro. Infelizmente, como a maioria das pessoas não pode ser solidárias fraternalmente, por causa da ganância e ambição de acumulação cada vez maior da riqueza, o jeito é ser um solidário egoísta. Em outras palavras, deve-se ser solidário, não pensando em ajudar ao próximo como um fim em si mesmo, mas como meio de ajudar a si mesmo. Com a ajuda ao próximo, as pessoas estarão, em última análise, ajudando a si mesmas, pois faz-se o bem para não ser vítima do efeito colaterol do mal daqueles que não têm nada a perder...

O sistema molda o indivíduo. As pessoas são condicionadas iguais aos animais e não percebem isso. O sistema capitalista só sobrevive com a reação automática para o consumismo, a inveja, o egoísmo, a ganância, etc. Não somos assim. Aprendemos a ser assim. Sem isso não há capitalismo. Como falar de fraternidade, cooperação, ética na política, se o próprio sistema preconiza a disputa e a concorrência? Por outro lado, não preconizo um capitalismo estatal e ditatorial, que muitos chamam de "socialismo". O Estado não deve ser onipresente e nem invisível. Se o mundo caminhasse para uma social-democracia...Sonhar não custa nada!

Por isso reafirmo. A base de tudo está no modo de produção. A mudança de todos os demais valores passa por uma mudança no modo de produção. O discurso é repetitivo, mas se as pessoas não pararem para refletir sobre isso radicalmente, não há luz no horizonte. Se conseguirmos avançar um pouco em direção a uma social-democracia, já será um grande feito. Os exemplos da Noruega, Dinamarca, Suécia e Finlândia demonstram cabalmente que é possível fazer diferente. Todavia, uma caminhada de 100 KM só é possível quando se dá o primeiro passo.

Só não reconhece isso as pessoas de direita e que tem um compromisso com o status quo. Mas esses estarão presos em gaiolas de ouro. Pior para todos nós.

Vejam os exemplos dos países nórdicos: Noruega, Dinamarca e Suécia. A social-democracia desses países não seria uma prova inconteste de solidariedade egoísta? Quem dera se tivéssemos pelo menos isso, hein? Aqui, só temos ganância e egoísmo puro.

No capitalistamo selvagem, tudo o que não é dinheiro é feio. Estou pensando numa política de bem-estar-social promovida pelo Estado. Mas enquanto não houver pressão por parte do povo, ou se ajuda, ou se aguenta as consequências de uma distribuição de renda à força. A questão é prática. Fica aí um assunto para se fazer uma reflexão, afinal, é paradoxal falar em liberdade no atual sistema, visto que a realidade nos mostra câmeras e cercas elétricas por todos os lados. Gaiolas de ouro? Pois é...


Texto: Marco Aurélio Machado

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

PODER POLÍTICO, IDEOLOGIA E ALIENAÇÃO!

O discurso perverso de que o pobre é, em última análise, o responsável pela sua própria desgraça e mazelas, não passa de ideologia e alienação de quem não compreende de fato a realidade. No Brasil, não foi a sociedade quem fundou o Estado, mas o inverso.

Quem está com a barriguinha cheia e mora na ZONA SUL, pode ficar teorizando sobre as dificuldades e ignorância das massas à vontade. Filosofar no ar-condicionado é a coisa mais fácil que tem. Que tal se preconizássemos pelo menos uma social-democracia neste país? Onde o Estado tivesse uma presença mais forte e cobrasse mais impostos dos ricos?

Por que na esfera política existe o revezamento no poder e na esfera da economia, onde os bens são produzidos por todos, mas geram riquezas para poucos, os bens são transmitidos de forma hereditária? Quase sempre, quem herda uma fortuna que não ajudou a produzir, são os "filhinhos de papai e mamãe", que não sabem fritar um ovo.

Em outras palavras, temos uma democracia de fachada, onde há igualdade num plano abstrato, ou seja, no papel e nas leis. E onde o homem produz a riqueza material, uma desigualdade, de fato. E o que é pior: transferência hereditária, como se estivéssemos em plena monarquia absoluta. Nessa hora ninguém fala de liberalismo. Será por quê?

Evidentemente, não estou dizendo que a família que tenha uma casa e bens até o valor de R$ 2.000.000,00, por exemplo, não deveria transmitir para os filhos. Mas, para quem nunca trabalhou, só ficou estudando e de papo para o ar, herdar mais de R$1.000.000,00, só para si, é ético, quando se têm tantos miseráveis? Até que ponto, toda essa violência não é distribuição de renda à força?

Não preconizo a violência. Mas, não podemos fingir que as elites hipócritas não são responsáveis por essa situação. E nós também, porque vemos o circo pegar fogo e aplaudimos os ricos, porque queremos ser ricos, visto não percebemos a ideologia implícita no discurso deles. O problema é que absorvemos valores que não são nossos e os defendemos como se fossem. Por quê? Porque somos alienados. Não temos consciência de classe e colocamos tudo nas "mãos de Deus".

Para não dizerem que sou intolerante e radical, aceito uma social-democracia tupiniquim: melhor distribuição de renda, habitação, saúde e educação de boa qualidade para todos. É pedir muito?


Texto: Marco Aurélio Machado

sábado, 24 de outubro de 2009

EXISTÊNCIA HUMANA E ANGÚSTIA!

O homem, sem dúvida, é um ser especial. Através da linguagem é capaz de transcender o mundo e buscar o infinito. Por isso, o mundo humano é do tamanho do nosso vocabulário. Não existe, para o homem, um mundo pronto e acabado, mas um mundo a ser construído. O problema é que essa construção é bem diferente do trabalho de um pedreiro que constrói uma casa, um muro, uma ponte...

O projeto humano é finito e ao mesmo tempo infinito. Finito, porque o homem é um ser mortal. Infinito, porque através da linguagem, ele transcende o espaço e o tempo. Assim, vive a angústia de ser e ao mesmo tempo de não-ser, porque a morte bate à sua porta desde o primeiro dia, desde a primeira lágrima que lhe escorreu no rosto...Não há certezas, só perguntas. A morte chegará e o dilema humano continuará. Até quando? Não sei. Ninguém sabe e talvez nunca saberá...

Texto: Marco Aurélio Machado

ARISTÓTELES E OS LIMITES DA RAZÃO MODERNA!

Aristóteles, a meu ver, foi o maior filósofo de todos os tempos. Sempre fiquei extasiado diante de tamanha inteligência. Impressionante! Por mais brilhante que ele seja, entretanto, o Deus dele é ATO PURO. O princípio motor, que move todas as coisas, mas não é movido por nenhuma. Contudo, o Deus de Aristóteles não interfere no mundo, apenas o coloca em movimento.

Além do mais, Aristóteles não dispunha dos equipamentos de que dispomos hoje para podermos conhecer o Universo e propor leis estritamente naturais. Para explicar os conceitos de movimento, potência e ato e a sua noção teleológica, ele teve que recorrer a um primeiro motor. Mas ele não colocou o problema de quem causou o primeiro motor e assim ad infinitum. Como escapar do desafio cético em tal situação? O povo grego acreditava que o mundo não fora criado, era eterno. Aristóteles não deixa de ser o gigante dos gigantes por causa disso. Penso que ainda está para nascer um filósofo tão brilhante...

Todavia, na época contemporânea, querer explicar a existência de Deus através de conceitos aristotélicos, não dá. De onde o homem tira os conceitos de onipotência, onisciência, onipresença, eternidade, infinito, imortalidade, perfeição e tantos outros, a não ser da experiência humana, quando ele percebe que não tem nenhum dos atributos acima citados?

Ele inventa esses conceitos, porque, simplesmente, é diferente em tudo com relação aos mesmos. Como quer proteção e se sentir seguro, projeta um ser a sua imagem e semelhança no céu. São muletas sobrenaturais. Criadas a partir da experiência humana, que é finita, temporal, mortal, ignorante, ocupa um espaço por vez, pode muito pouco e é imperfeito. Não é porque qualquer autoridade em filosofia disse que o homem é isso ou aquilo, que vamos engolir como se fossem verdades absolutas. Penso que o conhecimento deve se ater aos fenômenos naturais. O resto são acrobacias que violentam a lógica e o bom senso. Simples!

Texto: Marco Aurélio Machado

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

OS SOFISTAS, SÓCRATES, PLATÃO E A EDUCAÇÃO!

Vou escrever umas idéias que vieram à mente a respeito da educação no Ocidente, para tentar desvelar (tirar o véu) sobre os "responsáveis" por uma visão tão romântica da educação, que ainda paira sobre a sociedade OCIDENTAL. Professor, principalmente no Brasil, deveria ter um corpo de luz, afinal, para que precisam de dinheiro?

Sócrates, Platão e Aristóteles, a meu ver, são os responsáveis por uma visão deformada dos professores. Sócrates não cobrava para ensinar e criticava os SOFISTAS(PROFESSORES DE FILOSOFIA E RETÓRICA, AMBULANTES, E QUE COBRAVAM CARO PARA ENSINAR). Sócrates preferia viver de "esmolas", mas achava que "o saber não se vende".

Todavia, foi Platão-sempre o tal Platão, o filósofo mais reacionário e "cascateiro" da História da Filosofia-o responsável por essa visão tão romântica da educação. Platão criticava os SOFISTAS violentamente. Para Platão, os sofistas não mereciam respeito, porque cobravam para lecionar. O saber não deve ser vendido, segundo ele.

Quem era Platão? Era um nobre e, portanto, muito rico. A riqueza da sua família era baseada em terras...muitas terras. Ele não precisava trabalhar para sobreviver. Tinha tudo do bom e do melhor. Platão tinha horror a tudo o que era material, entretanto, nunca abriu mão do conforto, inclusive, não gostava das massas, tanto é assim que tinha a sua ACADEMIA, lugar frequentado por gente escolhida a dedo. Logo, dessa forma era fácil criticar os sofistas, porque podia se dar ao luxo de ficar "filosofando" o tempo todo e sem compromisso com a luta pela sobrevivência.

Os sofistas cobravam e caro para lecionar. "Vendiam" o conhecimento, porque era a única forma que tinham para sobreviver. Não poderiam se alimentar de LUZ. Quando a fome aperta, não são ideias e conceitos que ingerimos, não é mesmo?

Infelizmente, foi essa visão romântica que chegou a nós. O professor é visto como alguém que já nasce com o dom, o talento para ensinar. Ele tem que ser o exemplo, o timoneiro, o FIAT LUX da educação. O problema é que o nosso sistema é o capitalista.

Platão vivia numa sociedade escravagista. Os SOFISTAS cobravam caro de quem podia pagar. Os sofistas não tinham horror ao povo como era o caso de Platão. Numa sociedade "democrática", como era a Atenas da época, Platão ficava incomodado com os SOFISTAS, afinal de contas, ele era um ARISTOCRATA. Olhe a luta de classe mais uma vez presente aí.

A visão platônica da educação ainda permanece viva entre nós, mesmo que não saibamos disso. Platão fez prevalecer uma visão negativa dos SOFISTAS. Etimologicamente, a palavra sofista estava relacionada à sabedoria. Com Platão, ela ganhou o significado pejorativo de coisa falsa, ilusória. Daí o tão decantado SOFISMA, OU RACIOCÍNIO FALSO.

De quem é a culpa dessa tragédia? De Platão. A mesma culpa que temos pelos nossos desejos e tudo o que se relaciona com o corpo, vêm das teorias idealistas de Platão. Ele inverteu o mundo. Já não é o modo de produção quem determina nossas ideias. É o MUNDO DAS IDÉIAS o modelo para o mundo material.

Pois eu prefiro comer uma maça "bichada" do mundo material a uma maçã perfeita do Mundo das Idéias. Aquela "forra" a minha fome, esta enche a minha mente de ilusões. Platão foi genial, mas foi o responsável por essa maneira idealista de concebermos o real.

Conclusão: os sofistas precisavam trabalhar e, por isso, cobravam dos filhos abastados. Platão era rico e não precisava trabalhar, logo, podia fazer metafísica, buscar a "essência" numa outra dimensão!! Os professores vivem e sobrevivem NUMA SOCIEDADE CAPITALISTA (CAPETALISTA TAMBÉM). Estudaram muito para fazer um curso superior. Precisam ser valorizados, não apenas com elogios, mas também com dinheiro.

Não precisa ter o salário de um prefeito, governador, presidente e demais políticos, mas deveriam ganhar muito bem. Afinal, não se nasce com talento. Isso é mais uma ideia errônea platônica e aristotélica. Não há POTÊNCIA para ser desenvolvida e transformada em ato. Há, sim, empenho e horas e mais horas para desenvolver o "TALENTO".

Salário mínimo para os políticos!! QUE TAL?
Texto: Marco Aurélio Machado

O SÁBIO



Todas às vezes que leio ou escrevo esta palavra (sábio), eu me lembro do(a) personagem do AUTODIDATA, DO LIVRO A NÁUSEA, DE JEAN PAUL SARTRE. LIA TODOS OS LIVROS DA BIBLIOTECA EM ORDEM ALFABÉTICA, MAS ERA CONSIDERADO UM TOLO. O ideal é reunir todas as qualidades em uma pessoa só. Infelizmente, a palavra ideal nos dá um recado direto: IDEAL, aquilo que só existe na imaginação, que é perfeito no plano das idéias.

A erudição quase sempre está relacionada à teoria, uma espécie de "enciclopédia humana". Uma pessoa sábia, a meu ver, é aquela que nem sempre é erudita, entretanto, é capaz de contemplar o real como se fosse uma floresta, de uma perspectiva ampla. Sabe fazer perguntas complexas e profundas, usando conceitos e definições simples. Não é necessariamente humilde, nem é arrogante, apesar de muitos o considerarem assim. Não necessita de aprovação e nem deseja aplausos. Tem convicção e não se deixa persuadir facilmente, contudo, muitos o consideram teimoso. Assume a responsabilidade pelos seus atos, tendo, portanto, autonomia. Autônomo é o sujeito que dá a si mesmo a lei. É comandado de dentro e por isso é uma pessoa livre. Enfrenta os desafios que aparecem e mata a esperança (quem espera nunca alcança) todos os dias, contudo, sabe qual é o melhor momento para agir. Essa espera, entretanto, é relativa, pois se ela não acontece, ele a faz acontecer, quando tal atitude depende mais dele que dos outros.

O sábio compreende que o nascimento de um ser humano é puro acaso, porque, entre no mínimo 300.000.000 de espermatozóides, chegou primeiro. Assim, percebe o quão é importante ter nascido e por isso faz a diferença onde quer que esteja. Uma pessoa sábia tem defeitos como qualquer ser humano, afinal não é um deus e nem conta com ajuda sobrenatural. Contenta-se com a natureza e com a finitude aparente da vida.

O sábio observa com perspicácia o cotidiano e tira lições da vida como poucos. Ele sabe que os que o julgam, fazem-no a partir dos próprios valores, por isso são suspeitos. Nesse sentido, não se abala com as críticas. Para ele, "o tempo é o senhor da razão". O sábio sabe que são os nossos atos quem diz o que somos e não as nossas palavras, por mais belas que sejam. Conhece a pessoa olhando-a nos olhos. Ele passa a impressão de que faz uma "radiografia da alma". Um sábio desperta a inveja dos medíocres e dos amantes do poder, porém, conhece o inimigo como poucos. O sábio conhece "O PULO DO GATO", mas quase sempre é vítima das "serpentes".

Texto: Marco Aurélio Machado

QUAIS SÃO OS MITOS CONTEMPORÂNEOS?

Quando se fala em mitologia e mito, principalmente, os antigos, as pessoas acham graça e riem da "ingenuidade" dos mesmos. Não percebem que os mitos são representações simbólicas importantíssimas, diante de um mundo desconhecido e que, necessita, portanto, ser explicado e estruturado para dar sentido e significado à vida das pessoas. A função do mito é a de inventar um mundo imaginário, simbólico e mágico cuja finalidade é contribuir para o equilíbrio psicológico e emocional do homem diante de uma natureza desconhecida, misteriosa e hostil. No mito não se questiona nada, e quem ousasse, seria considerado louco e a pessoa poderia ser punida com a própria morte. O mito, neste sentido, é uma "verdade" absoluta. No mito tudo é considerado sobrenatural e sagrado. E hoje em dia? Quais são os mitos da nossa sociedade contemporânea, que dão sentido e significado à vida das pessoas? São muitos. A diferença é que os mitos antigos davam um sentido existencial à vida das pessoas; os da nossa época, esvaziam o sentido, num beco sem saída. No primeiro, temos o preenchimento existencial essencial à vida dos primitivos, no segundo, temos um abismo profundo e infinito, pois os "deuses" morrem da noite para o dia. A mídia fabrica e descarta. O que importa é ter, mesmo que a posse seja despossuída no dia seguinte! Pois é...

Há alguns significados para a palavra mito. Um deles é o que está relacionado ao primeiro contato que o ser humano tem com o mundo. É a cosmogonia; os relatos míticos sobre a criação do mundo e de tudo o que há nele. Um outro sentido, é a admiração, o encanto, a idolatria que fazem de seres humanos, deuses. Por exemplo: The Beatles é a maior banda de rock de todos os tempos. Michael Jackson é o rei da música pop. Elvis Presley é o rei do rock. Pelé é o rei do futebol. E como esquecer as "celebridades" fabricadas pela mídia? Um terceiro significado é o mito como explicação do senso comum, portanto, popular. Ex: não se pode chupar manga e tomar leite. Não se deve alimentar e tomar banho, pois PODE-SE MORRER, a crença que os astros determinam o nosso caráter e destino, entre outras crendices populares. Mas os mitos são muito mais ricos...

Além dos mitos citados, temos: o celular, o computador, o carro, o sonho de ser famoso, a ilusão de felicidade eterna no casamento, o reconhecimento profissional, a vontade de ter muito dinheiro, o desejo de ser imortal e especial aos "olhos" de (Deus)ses. Esses são os pequenos DEUSES do nosso mundo. Quantos de nós vivemos sem o celular e o computador? Mas o pior de todos os deuses: o ideal de beleza e juventude da nossa sociedade narcisista, e que faz tudo se tornar obsoleto da noite para o dia. Até mesmo em relação aos seres humanos. Tudo o que não é novo, é descartável. É por isso que o encontro autêntico, verdadeiro, está cada vez mais difícil. Afora, as paixões nos esportes: transformamos seres humanos de carne e osso em DEUSES( ÍDOLOS). Dá-se facadas, pauladas e tiros por causa de uma paixão esportiva. Mormente, o futebol. E há pessoas que riem dos mitos antigos. O pensamento mágico está muito presente em nossas vidas. Outro dia estava vendo um idiota, ex-integrante do(BIG BROTHER - a mediocridade coletiva), num shopping, e uma multidão querendo tocá-lo e tirando fotos. E isso num centro de classe média-alta, hein!! Isso só confirma que a massa letrada também é alienada e precisa produzir os seus DEUSES humanos, idiotas e medíocres. Evidentemente, que este será mais um "deus" que morrerá ainda em vida. Será uma espécie de zumbi à procura de algum reconhecimento na rua...Mais um candidato à depressão. Que dureza, hein?! OBS: Vi o tal sujeito no JORNAL HOJE, DA REDE GLOBO.

O vazio mental e existencial é preenchido com o consumo artificial, desnecessário, porque fazemos dos próprios objetos, deuses. O consumo passa a ser desnecessário e, portanto, alienado. O cartão de crédito ( que na verdade é de débito, pois crédito é o quem entra no "bolso" e não o que sai) gera uma ilusão de que não se está comprando de fato, porque o dinheiro é de plástico. Todavia, tal "realidade" é logo desmentida pela fatura que chega ao final do mês. Esse tipo de consumo é terrível, porque a pessoa costuma se arrepender ao sair da loja. Mas a sensação de preenchimento existencial é logo superada por um abismo mais profundo e que será preenchido com novas compras. Vira um círculo vicioso. Compramos livros, DVDs, roupas, bebidas, que quase sempre serão esquecidos numa prateleira. Ou seja, não serão "consumidos", pois a maioria já não está na "moda". Enfim, é a alienação total!!


Talvez seja por isso que os alienados costumam dizer que a Filosofia não serve para nada! Tal afirmação não seria, por acaso, mais um mito fabricado pelos "deuses de araque" do nosso mundo vazio de sentido? Quem sabe a "deusa" RAZÃO não é o que falta na vida de todos nós? Pois é...



Texto: Marco Aurélio Machado

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

FILOSOFIA DA CIÊNCIA

Filosofia é reflexão. Sendo reflexão, nada escapa. E as diversas ciências não poderiam ficar de fora da reflexão filosófica. É a retomada do pensamento sobre si mesmo, para abrir novas possibilidades. É questionar o esclerosado, o mofado, o cristalizado pelos usos e costumes. É refletir sobre a floresta e não sobre a árvore. O especialista que enxerga muito bem uma árvore, saberá tanto dela, até saber tudo de nada.

O papel da Filosofia é fazer perguntas mesmo. É incomodar; é tirar o chão e colocar areia movediça; é empurrar no abismo, quem tem verdades prontas e acabadas; é espantar-se e admirar-se com o mundo, como se fosse a primeira vez que o tivesse vendo. É colocar as questões mais superficiais, na verdade mais complexas, mas o tolo acha que é superficial. O problema, a meu ver, é que muitas pessoas leram algumas páginas de HISTÓRIA DA FILOSOFIA E PENSAM QUE A COMPREENDEM.

Quem começa com conclusões em qualquer área, é um assassino da Filosofia. E quem pensa que a ciência explica tudo, não compreendeu que a ciência é provisória. E que um pequeno e insignificante fato pode jogar toda uma teoria científica ao chão. Quem acha que a ciência tem a última palavra para tudo, deixou de ser cientista e tornou-se mais um religioso. Não existe nenhum fato científico sem uma teoria a priori que o sustente.

O cientista fala de um fato? O filósofo pergunta:"O que é um fato"? O cientista fala de uma lei. O filósofo pergunta:"O que é uma lei"? O cientista fala em seguir um método. O filósofo pergunta:"O que é um método"? E assim por diante. O que é um fato? Newton "viu" a lei da gravidade? Não! Os "fatos" nos mostram o sol girando em volta da Terra, mas todos sabemos que isso não é a verdade. Acontece justamente o contrário. E quantas pessoas e durante quanto tempo acreditaram que a Terra era o centro do Universo? Pois é! Chega a ser engraçado, pois partimos do que não vemos para explicar o que vemos. Não é à toa que o filósofo escocês, David Hume, já nos alertava para o papel importante da imaginação na esfera do conhecimento.

Contudo, foi o filósofo grego, Demócrito, que nasceu bem antes de Cristo, a meu ver, um dos mais brilhantes pensadores da teoria atômica e que corrobora o papel da imaginação e do raciocínio, para postular uma das maiores "verdades" da Ciência de todos os tempos. Através de pequenas partículas de poeira, numa fresta de luz solar, que entrava pela janela ou porta (há controvérsias), ele foi capaz de "imaginar" a existência do átomo, ou seja, partícula minúscula que constitui o mundo material. Evidentemente, com novos recursos tecnológicos foi possível ampliar a sua brilhante teoria. Fantástico!!!

Cadê os fatos? Outro exemplo banal. Um detetive se depara com uma mulher morta no meio da rua. A MULHER MORTA É O FATO. ELE EXPLICOU ALGUMA COISA? O FATO NÃO EXPLICA COISA NENHUMA. ELE APENAS CONSTATA. NO CASO, A MORTE DA MULHER. Para se descobrir tudo a respeito da morte da mulher, eu preciso fazer algumas perguntas. Veja bem: mais uma vez estarei partindo do que não vejo-hipóteses-, para explicar o que estou vendo, a mulher morta no meio da rua: o fato. Para desvendar o fato, o detetive, provavelmente, formularia as seguintes perguntas que ainda não têm respostas e, portanto, são invisíveis. Por que ela morreu? Qual o motivo? Em que condições? Quando? Como? Seria por vingança? Ciúmes? Envolvimento com o tráfico de drogas? Crime passional?

Enfim, formularia um quebra-cabeça-hipótese, teoria, para se chegar à uma conclusão que explicasse o fato. Uma sentença definitiva-lei-e o desvendamento daquilo que era apenas uma constatação-o fato-, que na verdade não explicou coisa nenhuma. Em última análise, o cientista parte de uma hipótese, uma teoria-e dependendo e pode assim explicar muitos fatos. Até que apareçam fatos novos. No início faz se um arranjo e a teoria continua comportando o fato. Aparece mais um, outro rearranjo; depois outro fato, mais um, mais outro, e assim por diante...Conclusão: tem que se arrumar um novo paradigma ou modelo para dar-se conta de explicar tantos fatos.

É mais ou menos isso que postula Thomas Kuhn, filósofo da ciência americano do século XX, ou seja, a ideia de novos paradigmas e revoluções científicas. Eu concordo com ele a priori, apesar de não ser especialista em Filosofia da Ciência (e nem quero ser especialista de coisa nenhuma, a não ser por motivos estritamente profissionais e de sobrevivência).

Mais uma vez, partimos da constatação do visível, que em si mesmo não explica nada, e imaginamos o invisível, para explicar o visível.

Eu queria acreditar como muitos por aí. Em última análise, se não temos fatos e tudo não passa de uma equação matemática, a conclusão é óbvia. A realidade é uma equação matemática. Pergunta: desde quando a matemática existe por si mesma? Se foi o homem, através das relações sociais, que aprendeu uma linguagem e depois inventou a matemática, como dizer que a filha é a mãe da mãe? Como não perceber que há interesses, relações de poder nas ciências? Quem ganha os principais prêmios de física, química e outros na comunidade científica internacional? O prêmio Nobel, por exemplo? Os americanos e os europeus? Acertei!!

Por outro lado, penso que a Filosofia não tem essa pretensão. Ela não gera o próprio conhecimento. Ela é uma reflexão, muito mais dos fins a que se destinam o conhecimento científico, do que qualquer outra coisa. Outra: como dissociar conhecimento científico, da ciencia aplicada, que nada mais é do que a tecnologia? A ciência já foi um fim em sim mesma. Hoje, não o é. Ela está a serviço do capitalismo. Quem define o que é ciência hoje? Simplesmente, a comunidade internacional de cientistas. Muito mais do que equações matemáticas que, supostamente, representam o real objetivamente, hoje, os fatos são feitos. E quem define o que é ciência ou não são os poderosos. Porque ela não é um fim em si mesma, mas um meio para transformar a natureza a seu bel-prazer e produzir mais-valia relativa e absoluta. Vou no popular. Produzir lucro. Mais do que nunca, a crítica filosófica é importante. Porque ao contrário do que muitos pensam, a intenção dela é abrir uma clareira na floresta, para que todos vejam o véu da ideologia e da alienação que encombrem o rosto da maioria desapropriada e desprovidada de sua humanidade, que é a espécie humana. Ciência pura + ciência prática ou tecnologia= EXPLORAÇÃO, DESEMPREGO, MISÉRIA, FOME E VIOLÊNCIA. Quem dera se a Filosofia fosse a luz da humanidade. Já teríamos acabado com essa mamata há muito tempo.

Enfim, a Filosofia é a busca sem fim por todas as supostas verdades colocadas no mundo humano. Se você amplia os seus horizontes, então, a Filosofia já fez a parte dela. Imagine o olhos humanos. Agora, compare com os olhos de uma águia. O filósofo é a águia. Imagine se todos filosofassem neste PLANETA. Conseguissem tirar o véu da ideologia e desalienar-se...O mundo estaria assim? Acredito que não, certo?


Texto: Marco Aurélio Machado

EDUCAÇÃO E IDEOLOGIA CAPITALISTA

Eu estou convencido de que o sujeito faz parte de um todo. Não separo a educação da economia, da política e das questões sociais. É uma grande engrenagem complexa e de difícil explicação. Uma coisa é certa: o sistema quer arrumar o culpado, o bode expiatório. Normalmente, o professor é o responsável por todas as mazelas referentes à educação. É mais fácil arrumar um culpado e os governantes encarnarem o papel de Pôncio Pilatos...

O sistema capitalista gera o desejo, o conforto, o estímulo ao consumo, a lei do menor esforço. Gera também, em muitos, a necessidade de ter apenas um diploma. Principalmente, um diploma de Ensino Médio porque muitas empresas o exigem, mas, também, o diploma de um curso superior, mesmo que seja numa faculdade que só visa o lucro e o ensino é de péssima qualidade. O importante é o PP: pagou, passou.

A educação é coisa séria demais para ser uma mercadoria como outra qualquer. Não existe apenas uma teoria para explicar toda a realidade educacional, porque o conceito é universal e, por isso, congela o real. O mundo, a sociedade, o homem e a realidade educacional são dinâmicos, mudam o tempo todo, logo, não se deixam explicar facilmente.

Veja um dos grandes problema da educação: a repetência. Eu penso que a instituição da repetência é um problema, pois muitos jovens passam da idade escolar e acabam evadindo. Por outro lado, os ciclos toleram alunos que chegam ao Ensino Médio sem saberem ler e escrever. A construção de um meio termo seria o ideal.

Eu, particularmente, penso que não se deve reter o aluno do Ensino Médio. Evidentemente, a família, a sociedade, a economia, a cultura, a alimentação, os conflitos existenciais, etc., contribuem para o sucesso ou o fracasso escolar. Todavia, acredito que a maior escola é a vida. Se a pessoa durante o período que estudou não quis nada com a "dureza," e além de não estudar, atrapalha os colegas, por que se deveria reter esse aluno? A vida será a sua melhor mestre. Os alunos do EJA, que não tiveram oportunidade de estudar quando eram jovens, são um belo exemplo disso. A diferença é que dão o maior valor aos estudos. Evidentemente, eles não têm mais tempo a perder. Por outro lado, algumas profissões exigem que o formando saiba muito e não se deve dar um diploma para qualquer um. Eis um grande dilema...Devemos deixar nas mãos do DEUS mercado? Pois é...

Texto: Marco Aurélio Machado

terça-feira, 20 de outubro de 2009

SARTRE: "A EXISTÊNCIA PRECEDE A ESSÊNCIA"

Pretendo, neste texto, fazer uma pequena reflexão bem didática e com exemplos pessoais sobre a filosofia existencialista de Sartre. Evidentemente, trata-se um de uma compreensão bastante pessoal e limitada minha, do grande filósofo francês.

Sartre inverteu a filosofia tradicional, que buscava a essência como realidade última. De uma maneira geral, os gregos tinham horror ao movimento. Heráclito era a exceção. Em Platão e Aristóteles fica muito nítida o nascimento da metafísica. A verdade está no real. Por sermos racionais, poderíamos, em tese, chegarmos à essência. Muitos, apesar de não saberem, continuam a filosofar como os gregos antigos. O que você acha que é essência e, por que, para Sartre, a existência precede a essência?

É o velho dilema da teoria do conhecimento. É possível o ser humano conhecer a natureza das coisas? Como ter acesso direto ao real sem representações mediadas pela linguagem? Quem vê a natureza do real? Uma águia enxerga muito mais. Um cachorro ouve muito mais do que nós. Se os nossos olhos fossem constituídos de outra forma, como seriam os objetos? "O homem é a medida de todas as coisas", como diria o grande Protágoras? Se for, caimos no relativismo e a verdade é a medida humana. Adeus metafísica. Adeus a todo conhecimento que sai do mundo imanente.

Muitos não gostam de Sartre, porque nem sequer conseguem compreendê-lo. Complementando:" o homem nada mais é do que o seu projeto".Mesmo quando o homem não escolhe, ele já fez uma escolha. A escolha de não fazer escolha nenhuma. Não há um Deus para Sartre. Se 'Deus" não existe, tudo, em tese, seria permitido. O homem não tem desculpa. Tem que escolher o tempo todo. A liberdade é isso. Por isso gera a angústia. O homem autêntico escolhe e assume a responsabilidade pelos seus atos. O inautêntico vive na má-fé. Finge escolher. Não há uma essência imanente esperando para ser atualizada. A essência é o conjunto das minhas ações livres.Primeiro eu existo. E todos os meus atos são a realização da minha essência. O homem, simplesmente, é o que faz.

O nada vem ao mundo pela consciência. Na fenomenologia, toda consciência tende para um objeto e todo objeto só tem sentido e significado para uma consciência. Não há um 'Deus" para conceber coisa nenhuma. Se houvesse, como poderia o necessário criar o contingente? Para quê? Qual a finalidade? O necessário não pode ser carente. se for, já não é o necessário. Só há fenômeno.

Digam-me. De onde 'Deus' saiu? Se Deus é causa teria que ser necessariamente efeito de uma outra causa. E assim ad infinitum. Se Deus existe precisaria de um ser mais complexo do que ele para gerá-lo. A teoria de Darwin tem demonstrado que organismos mais simples criam os mais complexos. E não o contrário.

A navalha de Ockan serve para quê? Se podemos explicar um fenômeno de uma forma mais simples e natural, para que recorrer ao complexo e ao divino? Ao mistério? Isso é imaginação e fantasia. Não perderei mais tempo com discussões lógicas que não tem objetos que a correspondam.

Por que os psicopatas e sociopatas não tem natureza humana? Explique-me. São capazes de cometer as maiores atrocidades sem terem remorsos, culpas e arrenpendimentos? Cadê a essência imanente da racionalidade a esperar uma atualização ou desenvolvimento? Você disse bem: acredita. Não pode demonstrar logicamente ou racionalmente.

A essência acaba com a liberdade humana. E joga por terra o livre arbítrio. O que fazer? Sair da metafísica e cair dentro do abismo. E agora?

Uma discussão filosófica não comporta opiniões. Ou você demonstra logicamente, ou não demonstra. Não é nada pessoal. Como pode me explicar que pessoas que viveram com carinho, amor, respeito, dignidade e que não tem histórico de nenhuma psicopatia na família possam desenvolver quadros psiquiátricos terríveis? Onde está a consciência moral dessas pessoas? E se estuprassem uma filha sua? Como você veria essa situação? Sinceramente...não convence.

Logo, o ser humano não é capaz de escolher? Faltou reflexão. Como explicar, então, os filósofos estóicos? Eles tinham total domínio sobre suas emoções e sentimentos. Por quê? Porque refletiam. Os pensamentos mudam os nossos sentimentos. Mas, fomos condicionados desde pequenos a crer que não somos responsáveis pelos nossos atos.

OS FILÓSOFOS ESTÓICOS SÃO A PROVA DE QUE É POSSÍVEL. EU NÃO DISSE QUE SOU RACIONAL O TEMPO TODO. MAS SEI QUE A MAIOR PARTE DOS MEUS ERROS FORAM COMETIDOS POR FALTA DE REFLEXÃO. NÃO JOGO A CULPA NEM NO INCONSCIENTE E NEM NO DEMÔNIO.

A liberdade em Sartre só se dá na ação. Ao agir, a pessoa escolhe. Escolha e ação se identificam. A capacidade de fazer escolhas é absoluta. Mas, nem todas as nossas escolhas terão êxito. Contudo, se não tivéssemos a sensação de obstáculo, nem saberíamos que somos livres. Se não tenho resistência nenhuma, como saber o que é a liberdade? Um pássaro só voa por causa da resistência do ar.

É preciso estudá-lo a fundo. Não substantivem a consciência em Sartre. A liberdade só se faz em ato. Se eu nunca escrevi um livro, não tenho posso saber se tenho potencial. Escrever uma obra é torná-la uma existência.Se penso muito na liberdade e não ajo, tenho liberdade? Primeiro existo, depois realizo o meu projeto. Projetar é ir sempre em direção ao futuro. E eu só posso ir ao futuro realizando ações no presente. Para Sartre, toda a liberdade e responsabilidade é interior ao sujeito. Ex: "Eu choro, porque estou triste. Errado. Eu estou triste e por isso choro. Perceberam a diferença? Eu dou um motivo, um sentido, um significado para a tristeza e, por isso, choro.Outra: A altura me assusta. Errado. A altura não tem o poder de assustar as pessoas. EX:"Eu me assusto com a altura. Dei um motivo. A responsabilidade é minha. Tanto é verdade que duas pessoas na mesma situação, poderiam agir diferente. Mais:"Você me magoou". Errado. Eu me magoei ao dar mais importância a sua opinião a meu respeito. Eu escolhi ficar magoado. Estamos condenados a ser livres. E isso implica em responsabilidades. Não há um Deus, não há valores estabelecidos para Sartre, não há caminho a seguir. Eu realizo os meus projetos com outros humanos e sou responsável por eles, inclusive, assumindo todas as conseqüências. Eu crio os meus valores e os assumo. Isso é viver autenticamente e não na má-fé.

A essência nada mais é do que o que fazemos. Não existem valores, regras, normas e princípios para nos guiar. O homem está condenado a ser livre. E a liberdade nada mais é do que escolher o tempo todo e sermos responsáveis pelos nossos atos. Se não há essência, então, primeiro o homem existe. E a partir da sua existência, ele realizará à sua essência através dos seus atos. Não temos desculpas ou pretextos. O homem cria e recria os seus valores através da liberdade de escolher os seus projetos. Não há uma substancialização da mente. Ex: ninguém é, por natureza, covarde. Escolhe-se a covardia. E o mesmo serve para as demais situações. Quem foi covarde um dia, numa mesma situação, poderá agir diferente. É uma escolha. O homem realiza a sua essência escolhendo e agindo. A escolha não é abstrata. Ela se funde com os atos. Isso explica esta frase:"O HOMEM ESTÁ CONDENADO A SER LIVRE." Livre, porque não se criou; condenado, porque todo ato tem responsabilidade: não há a quem recorrer. Nesse sentido, a liberdade é um fardo, porque ao homem cabe criar o seu próprio SER.

As coisas são "em si". Estão aí. Sem sentido e absurdas. Só o homem existe, porque ele é o "para-si". Tem consciência da sua existência e pode escolher o sentido e o significado da própria vida e do mundo. Nesse sentido, como dizia Heidegger, o homem é o ser das lonjuras, ou seja, distancia-se do real e lhe dá sentido. É como se houvesse uma fissura, uma rachadura no interior do "em si", para conhecer a si mesmo.

As meninas-lobo são um bom exemplo. Elas não tiveram oportunidade de se humanizar, logo, eram lobos. Onde estava a essência delas? Uivavam, latiam, bebiam água lambendo, comiam carne podre e andavam de quatro. Não somos humanos. Tornamo-nos humanos. OBS: não tenho a última palavra sobre o assunto. É intrigante. Muitos não concordam. Apesar de achar interessante, continuo refletindo sobre o assunto.

O passado é ontologicamente um tempo fechado para Sartre. O mesmo pode ter um outro significado e sentido, mas não se pode mudar o acontecido. Por outro lado, o futuro é aberto. O que nos permite fazer escolhas, construir e reconstruir o nosso caminho. Quando não a fazemos, vivemos na má-fé ou de forma inautêntica. Fingimos escolher. O homem autêntico escolhe e assume a responsabilidade pelos seus atos.

Texto: Marco Aurélio Machado.

domingo, 18 de outubro de 2009

CRENÇAS E DESCRENÇAS NO MUNDO

A pior desgraça da humanidade é a crença. A crença divide os homens. Seria possível viver num mundo sem crença? Nenhuma? Observar todas as coisas, pessoas e relações sem julgar? É possível viver só no presente? Há saídas, mas estamos dispostos a pagar o preço? Se a crença não é um fato, para que acreditar? Eu acredito que minha mulher nunca me trairá. Num belo dia, trai. Eu acredito que sou querido por um amigo, até que o pego falando mal de mim. Eu acredito em Deus e rezo pela sua intercessão, mas se ouve, não me ajuda. Se consigo o que quero foi Deus quem ajudou. Se não consigo, era da vontade de Deus. Cometo um assassinato. A responsabilidade não é minha, pois acredito na tentação demoníaca. Enfim, posso fazer um livro para demonstrar que a crença é um problema. É fuga. Queremos segurança psicológica e emocional. Para isso, inventamos todo tipo de fantasia, porque não suportamos encarar a realidade de frente. Precisamos de muletas sobrenaturais e naturais. Acreditamos que seremos felizes para sempre e idealizamos um mundo cor-de-rosa.


Fizemos os símbolos serem mais importantes que o real. As idéias passaram a valer mais que o mundo. Fazemos juízos de valores sobre tudo. Não percebemos que as coisas, simplesmente, são. Queremos que elas fossem diferentes. Fazemos comparações o tempo todo. O que queremos com isso? Sofrimento, ora. Pátria, nacionalidade, bandeiras, fronteiras, acúmulo de riquezas, crenças de toda ordem criam o caos no mundo. Quando acreditamos em qualquer coisa, vem o sofrimento. Olhamos para as coisas e fazemos juízos de valores. Elas nunca são, deveriam ser. Esse movimento das idéias e de conceitos que não se conforma com o mundo tal qual é, mas deveria ser, é o grande dilema humano. É possível fazer qualquer coisa sem os pensamentos e os sentimentos? É possível. Todavia, queremos isso? Não. Queremos apenas acreditar sem agir. E enquanto houver crenças, haverá divisão entre os seres humanos. Por que as crianças conseguem se organizar muito melhor que os adultos. Elas são inocentes. Simples assim!

Viver sem crença ou descrença, como preferir, é possível? Só há essa saída. O texto foi claro. Nós queremos isso? Ou continuaremos precisando fugir do real trocando-o por idéias? A escolha é nossa. Precisa-se de muita abstração para compreender isso. O fato: não queremos. Precisamos das malditas crenças, logo, não há saída. É possível viver como uma criança sendo adulto? Se não for, então, já era.

As crianças têm crenças? Elas acreditam nas crenças dos adultos. As crenças são fugas. É possível agir sem motivo? Sem querer ganhar ou perder? É a única saída, a meu ver.

Não estamos analisando as crenças ou descrenças particulares. Estamos analisando o fenômeno da crença. Por que precisamos dela? Viver de forma inocente, como se fôssemos crianças? Se acredito em algo e você em outra coisa, brigaremos por isso. Se sou cruzeirense, e o outro, atleticano, discutiremos por isso. Se sou socialista e você é um conservador de extrema direita, vamos divergir sobre isso. Se sou ateu e você um religioso, não chegaremos a um consenso. Se sou um presidente de uma nação e tenho alguns interesses e o dirigente de um outro país tem outros desejos, então, faremos guerra por causa dos interesses e desejos em conflito. Se gosto de ficar em casa e minha mulher gosta muito de passear, discutiremos por isso. Enfim, deu para perceber que esse conjunto de crenças divergentes gera desordem, porque por trás disso está o desejo de ganhar; o egoísmo.


Na verdade, queremos ser proprietários, inclusive, de seres humanos. Veja o mundo atual: quais são as crenças e os desejos que movimentam o sistema vigente? Acúmulo de dinheiro e a lei de Gérson. Acreditamos que tendo algo seremos felizes. É possível organizar um modo de produção onde a pessoa humana é mais importante que os objetos de desejos. Neste sistema, a pessoa não é mais um objeto de consumo? Ela não é um fim em si mesma, mas um meio de satisfação dos mais diferentes níveis? Então? Queremos encontrar uma saída, mas não queremos pagar o preço. Por que os jovens que fizeram vestibular na UFMG foram tão mal nas redações? Porque toda a tecnologia gera prazer e preguiça. Não se sabe a diferença entre o desejo e a realização do mesmo.


A crença divide. A quem interessa toda divisão? Os índios, antes de entrarem em contato com a "civilização," têm uma organização social muito diferente. O que é produzido é dividido. Não estão no nível que estou dizendo, porque possuem crenças, mas elas são inocentes. Não é uma conclusão. Estou muito longe disso, mas quero lembrar que é possível sair dessa prisão. Todo prazer tem um preço. E estamos pagando por ele, sem dúvida.

Depois que se tem conhecimento, ou seja, aquilo que virou memória e lembrança, não é possível vermos o real sem crenças? Sem fazer juízos de valor? Sem recorrer à memória? Agir com uma sabedoria acumulada, mas sem divisão? As coisas são. Quando achamos que elas deveriam ser, começam os problemas. Se não houvesse uma mente humana para dizer o que é a beleza, haveria a beleza entre os objetos? Haveria comparação? Haveria inveja? E se aprendêssemos a olhar o mundo sem conceitos e sem valores? Só haveria o ato. Entraríamos numa dimensão muito diferente. Com o tempo e com o advento de outras gerações, faríamos as coisas, como se já soubéssemos o que fazer. Uma sabedoria inata e intuitiva. Teríamos a noção de que seríamos UM com o universo. Não haveria separação entre os homens. A liberdade de um homem não terminaria onde começa a do outro, pelo contrário, seria o complemento. A cooperação e a solidariedade seriam as regras, e não a divisão.

Os esquizofrênicos vêem e ouvem muitas coisas que os ditos NORMAIS NÃO VÊEM E NEM OUVEM. Eles acreditam no que estão vendo e ouvindo. Se a mente é capaz de inventar algo, quem garante que não inventamos tudo? Qual é o critério para dizer que alguém é normal e que a sua crença é verdadeira? De um ponto de vista lógico, uma pessoa não pode dizer nada daqui a 10 segundos, por exemplo. Você acredita num EU? Existe o EU? É o EU quem pensa ou são os pensamentos quem geram o EU? E então?

A questão do EU é muito importante. Existe um EU separado, um centro? Era aí que queria chegar, pois dessa crença no desgraçado do EU, vêm todos os problemas humanos. E então? Quem gera o quê?

Pois é. O "EU" é uma ilusão gerada pelos pensamentos. Não existe um EU separado. Quando não percebemos isso com clareza, cometemos os maiores equívocos. Para ficarmos no campo da FILOSOFIA OCIDENTAL, David Hume já dissera que não há um "EU". Existe, sim, pensamentos que fluem sem parar. Uma hora estamos calmos, em outra, nervosos. Em determinadas situações sentimos medo, em outras, somos corajosos. Somos um conjunto de pensamentos que geram sentimentos num processo infinito. O "EU" não é o centro. Ao perceber que só há pensamentos que circulam ou vão de um lado para outro num mecanismo sem fim, temos a ilusão de que há um ser a quem chamamos "EU". Supostamente, ele organiza tudo e seria independente.


Na verdade, somos um conjunto de "EUS". Todas às vezes em que há uma tentativa de separação, é como se quiséssemos ficar livres de nós mesmos. Ex: uma pessoa diz que tem ciúme e quer ver-se livre do mesmo. Essa pessoa tem ciúme ou ela é o próprio ciúme? Eu sou o ciúme. Se sou algo, como posso ficar livre de mim? O outro diz que tem inveja. Falso. Ele é a própria inveja. Todo o seu ser é inveja. Vejo pessoas dizendo que precisam se aceitar. Como pode isso? O "EU" querendo aceitar a si mesmo? Se eu sou o conjunto dos meus pensamentos e sentimentos, não tenho como me aceitar. SOU todo o meu passado, minhas memórias e lembranças. Não há o que fazer. Se faço algo, entro num processo gerador de mais um "EU" e assim ad infinitum. Somos todos os condicionamentos do passado. O presente não passa de um passado modificado. Como ficar livre? Sempre que quero ficar livre GERO UM CENTRO, UM ENTE SEPARADO, A QUEM CHAMO "EU" OU "EGO". AO PERCEBER QUE É MOVIMENTO SEM FIM OS PENSAMENTOS, portanto, percebem o impermanente. Mas o impermanente deseja a permanência. Deseja segurança, estabilidade. Recorre, então, às crenças: todas. As crenças nada mais são que tentativas do "EU" gerado pelo conjunto de tudo o que há em mim de obter segurança. E tenta preencher a impermanência de todas as formas possíveis. O que fazer? Há um método? Será?

Mas o conflito a que uma pessoa se refere é a tentativa do impermanente gerar o centro permanente. O que é a relidade? É movimento incessante. A vida é movimento, fluidez, dinamismo: é como se fosse um rio, que ao deparar-se com um obstáculo, o contorna e continua. Assim são os pensamentos. O conflito vem quando queremos ser diferentes do que somos. Isto explica a metafísica grega antiga e o nosso desejo de estabilizar e enquadrar as coisas num conceito? O que acham? Se tivéssemos seguido Heráclito, talvez a forma de vermos o mundo seria totalmente diferente. Queremos segurança. Não nos conformamos com o movimento. Não queremos perder. Queremos apego.


Queremos controlar tudo. E a vida é dinâmica, particular, concreta. Por isso, não podemos achar que as idéias e os conceitos, ou seja, os símbolos, sejam mais importantes que o real. O real é muito mais rico e complexo do que supõe a nossa vã filosofia. O que é a crença? Um apego e um desejo de tornar o que é essencialmente movimento e impermanência em algo estático e permanente. Desejo de segurança. Nada mais que isso. Desejamos fazer um monte de coisas, mas não percebemos que é fuga. Fugimos o tempo todo de nós mesmos. Não queremos esse confronto. Não queremos saber que somos a inveja, os ciúmes, o medo, a insegurança, o ódio, o amor, a raiva, o desespero, a felicidade e a infelicidade, enfim, somos tudo isso. Compreende-se o porquê essa história de inconsciente não se sustenta? O inconsciente nada mais é do que memória e lembrança. Para que preciso dividir a mente? Não há separação. Existe, sim, uma ilusão de um "EU".


Se o "EU" fosse separado de mim, bastaria não me identificar com os meus supostos pensamentos e sentimentos. Assim, ficaria livre das neuroses e psicoses de todos os tipos. Mas quando acontece qualquer coisa, todo o meu ser sofre ou se alegra. Não há separação mente-corpo. Sócrates, Platão e Descartes foram os responsáveis por essa forma de pensar, ou seja, separar uma suposta alma do corpo. Isso não é uma conclusão...

Kant acordou do seu sono dogmático por isso. Foi Hume o responsável direto por ele ter escrito A CRÍTICA DA RAZÃO PURA. O "EU" é justamente essa organização e capacidade de articular as coisas. Só que ao fazer isso, ele é diferente de mim? Claro que não. Ele não passa de passado e lembrança. Se penso, falo e ajo no mundo, é porque antes eu tenho isso como memória e lembrança. Caso contrário, como poderia reconhecer o que não conheço? Esse conhecimento é do mundo fenomenal kantiano. Tanto é assim que se tenho uma experiência ela vira memória e lembrança. Mais um "EU". Ao querer repetir, ficarei desapontado, porque nunca mais terei a mesma experiência. O prazer que tive ontem ou a dor, nunca mais serão iguais. Sempre que queremos fazer o mesmo, advém a dor. O prazer contém a dor. Não são opostos. Fazem parte de uma mesma escala, porém, em graus diferentes. Esta frase ilustrará o que quero dizer:"ERA FELIZ E NÃO SABIA". Por quê? Porque só se pode se feliz em ato. Quando penso em repetir a mesma experiência não conseguirei. Tudo não passará de memória. Cada experiência é única, pois a vida é dinâmica.


São os apegos que nos fazem sofrer. Se olhasse para todas as coisas como se fosse a primeira vez que a tivesse vendo, não teria memória e lembrança, logo, o novo surgiria. Outra: dizemos que temos medo do desconhecido. Falso. Temos medo de perder o conhecido. Se não conheço, como posso temer? É a suposta segurança que tenho, quem me faz ter medo de perdê-la. Se aprendêssemos a morrer todos os dias-simbolicamente-, para as coisas do mundo, então, teríamos uma outra relação com a existência. Como se pode ver, estamos muito longe disso. Eu sei que isso é verdadeiro, mas o meu CENTRO NÃO QUEr SER O CONJUNTO DE TUDO. Se existisse um "EU" separado de nós e que não se identificasse com os nossos pensamentos e sentimentos, logo, não teríamos neuroses e todo tipo de doenças psicológicas e emocionais. Bastaria estarmos separados. Isto acontece? Não! Todo o meu ser sofre. É a interação mente-corpo que dissera antes...

Isso não significa abrir mão do mundo. O mundo está aí para ser usufruído. A natureza é bela e nos oferece tudo o que precisamos. Usufruir, sim, possuir, não. Podemos ter uma vida plena e feliz. Não a temos por causa desse desgraçado do "EU", Gerador de uma falsa segurança psicológica e, que na verdade, gera todo tipo de apego e posse. E apego é sinônimo de sofrimento. Olhe o sistema vigente de acumulação de capital. Não dá para separar as coisas. Tudo está interligado. Nós e o UNIVERSO SOMOS UM. E ISSO NADA TEM A VER COM DEUS. Apesar de muitos assim pensarem...

Vou tentar explicar através de uma analogia. Quando você tem medo de alguma coisa, uma fobia, por exemplo, a tendência é você buscar segurança, correndo, certo? Neste caso, você pensa que existe um "EU" separado, um centro que controla todo o seu ser. Contudo, isso não é verdade. O medo nada mais é do que a falta de percepção de que você não tem um medo. Você é o medo de um ponto de vista psicológico. Se você é uma coisa, como pode escapar dela? Se você perceber isso quando sentir medo-não apenas intelectualmente-, mas com todo o seu ser, o que acontecerá? Você compreenderá que não é possível fazer nada. Basta observar o movimento dos pensamentos e sentimentos, assim como todos os sintomas físicos desagradáveis que está sentido. Você pode correr sem as suas pernas? Não. Também não pode correr de você mesmo. Em outras palavras. Você não tem o pensamento e o sentimento. Você é o pensamento e o sentimento. Há uma interação entre mente-cérebro. Eu não sou eu. Sou EUS. O conjunto de todas as minhas memórias e lembranças formam o meu ser. Como não quero ser coisas desagradáveis, gero um centro, que ao perceber o impermanente, quer ser permanente e estável. Só que isso não acontece nem na natureza e nem na nossa mente. Somos movimentos físicos e psicológicos. Espero que tenha compreendido.

As crenças dividem. O dia em que não houver egos o ser humano e o UNIVERSO SERÁ UM. As crenças dividem em qualquer situação que você imaginar. E elas não passam de crenças. Uma das crenças mais desgraçadas é a de que os conceitos são mais importantes do que o real. Precisamos das palavras para nos comunicar, contudo, quando elas passam a ser mais importantes do que o real, todo tipo de conflito acontecerá. Imagine um mundo sem uma consciência humana para percebê-lo. Teríamos crenças? Imagine cada ser humano olhando as coisas sem comparar, sem julgar e sem fazer juízos de valores. Haveria amor e paz entre os homens. Saberíamos usar as palavras para a função de contribuir para a solidariedade e a cooperação. Olhe os demais símbolos. Nação, Estado, Hino Nacional, Bandeira, Fronteiras, Religião, Classe Social etc. É possível ter paz com tantas crenças geradoras de ódio? As pessoas acreditam, porque querem segurança psicológica. Prova: a ciência já refutou várias crenças de que a Bíblia é a palavra de Deus. A crença é tão cega, que muitas pessoas preferem continuar acreditando naquilo que já foi provado e que não passa de mito. Triste, muito triste. Eu não estou livre das crenças, mas estou convencido de que ela é a desgraça do mundo.

Eu gosto de Filosofia de uma maneira geral. Gosto de fazer contrapontos de idéias. Por exemplo, Sartre, a veu ver, é o oposto de Krishnamurti. Já li algumas obras de Sartre-gosto muito também-, e Karl Marx é fantástico. Gosto da História da Filosofia como um todo. Respeito todos os filósofos, porque cada um contribuiu direta ou indiretamente para que a Filosofia se enriquecesse. Vejo Krishnamurti como um cético. Mas um cético que não coloca em dúvida o mundo dos fenômenos. Quem leu com atenção os posts-é por isso que peço para as pessoas relerem-, viu que fica subentendido a questão da suspensão do juízo em relação às crenças. Quem faz uma leitura apressada, pode chegar a uma conclusão falsa a seu respeito. Muitos o consideram um místico. Nada disso. Ele diz um sim à vida. Contudo, sem nenhum tipo de apego. As coisas estão aí para ser usufruídas, devemos usá-las para as nossas necessidades, não para sermos proprietários. Estou muito longe disso. Mas sei que o que ele diz não é contraditório. Consigo pegar várias contradições em Sartre ou em qualquer outro pensador, mas em Krishnamurti é difícil. Pode ser que tenham muitas, mas ainda não encontrei uma que jogasse o castelo ao chão. Como ele não escreveu nenhum livro-os que estão nas livrarias são gravações das suas paletras-, pode ser que algum tradutor ou intérprete tenham deturpado algo ou compreendido erroneamente.


É por isso que fico indignado com trechos soltos para se fazer uma análise do pensamento de uma pessoa. Se você ler-DIÁLOGOS SOBRE A VIDA E REFLEXÕES SOBRE A VIDA-, observará que o pensamento dele é muito interessante, profundo e intrigante. Muitos imbecis preferem dizer que é místico. Desde quando eu sou um místico? Por que perderia o meu tempo com um místico? Nada a ver. É isso galera.


TEXTO: Marco Aurélio Machado

P.S.: Este texto baseia-se nas minhas leituras do pensador indiano Krishnamurti ( 1895 - 1986), mas são reflexões pessoais. Escrevi o que já pensava sobre o assunto, mas, com certeza, sem a mesma profundidade. A descoberta das obras do pensador indiano foi uma grata surpresa para mim, pois desde muito cedo eu ficava intrigado com um EU esquizofrênico, cindido e dividido.


EDUCAÇÃO E FRACASSO ESCOLAR NO BRASIL

A tese de que o professor é o total responsável pelo sucesso ou fracasso de um aluno é uma falácia. Como eu sempre disse aqui, o problema não é apenas moral. De uma suposta força de vontade ou de vocação. Isso faz parte de um contexto muito mais amplo. Quem não enxerga a floresta não perceberá a árvore. Temos que ter uma visão de conjunto. É um todo. O sistema quer arrumar bodes expiatórios. Como o mesmo sistema vendeu a falácia aceita por tantos, de que o mercado regula tudo. Como o mercado pode regular tudo, se ele é irracional por natureza? Essa conversa de que o Estado não deve intervir na economia caiu por terra, não foi?

O mesmo vai acontecer em relação à educação. O professor tem a sua parcela, mas ele está longe de ser o principal ator. Há alunos que não se alimentam; têm pais analfabetos; muitos são abusados sexualmente; tantos outros não têm dinheiro para comprar um caderno; outros ainda não têm o mínimo estímulo e precisam trabalhar para ajudar em casa. Como vão estudar?

Para quem está em sala-de-aula isso é uma realidade. A escola virou uma espécie de ponto de encontro. Há alunos brilhantes, mas a maioria não quer nada. Mas não é um problema de força de vontade apenas. A pergunta é: "O que faz um jovem ter muita força de vontade, enquanto outros têm uma vontade sem força"?

Os melhores alunos têm pais estudados, bem empregados, famílias estruturadas. Isso é um fato. Acontece de um ou outro que não tem essa situação se destacar, mas como eu disse, é exceção. Basta comparar os estudantes de boas escolas particulares com os das escolas públicas...

O problema é amplo. E tem a ver com o modo de produção vigente. Não dá para dissociar isso. O professor é mais uma pequena peça nessa grande engrenagem. Ele pode pouco. Chamar a atenção de um aluno, hoje em dia, é um perigo. Nunca se sabe a reação que o aluno terá. A capacidade de tolerar frustração dos jovens atualmente é baixíssima. Isso se deve ao fato de trocar-se afeto, carinho e amor, por presentes.

Um jovem que não se acostumou a ouvir um NÃO de vez em quando na família, será um sério candidato a agredir os professores no futuro. São crianças grandes. Nada mais. Outra: quando o sujeito não quer fazer um trabalho ou exercício, o que se pode fazer? No fim do ano a pressão para aprová-lo é grande. A experiência mostra: quanto mais uma família é estruturada no sentido amplo dessa palavra, mais os filhos serão bons alunos. Há exceções, mas são raras. O contrário também é verdadeiro.


Enfim, a meu ver, o principal fator é o econômico, político, social e cultural. Falta seriedade no quesito educação e saúde no Brasil. A educação deve ser um projeto amplo de Estado e não de ideologias e cores partidárias. Em qualquer país desenvolvido, quando alguém se refere à educação, usa-se a palavra INVESTIMENTO. Aqui no Brasil? Usa-se a palavra DESPESA. E a corrupção é o quê? Sem comentários...

Texto: Marco Aurélio Machado

EDUCAÇÃO LIBERTÁRIA

Se solicitarmos à maioria das pessoas envolvidas com a educação sobre qual é a definição de EDUCAÇÃO, qual é o conceito de educação, teremos dificuldades. O que é educação no Ocidente? Ou seja, qual é a essência da educação? Em outras palavras, o que faz a educação ser o que é?

Que tipo de pessoas queremos formar? Aonde queremos chegar? Sim, porque "o navio que não sabe a que porto atracar, nenhum vento lhe é favorável", já dizia Sêneca. Vejo vários professores, diretores, secretários de educação e pedagogos com uma visão aristotélica da educação e não sabem que estão preconizando a teoria do ATO E POTÊNCIA de Aristóteles.

Vemos os mesmos profissionais preconizando que devemos formar cidadãos críticos, conscientes e livres, mas bastam alguns questionamentos por parte de alguns alunos e professores, para que os especialistas da educação acharem que somos contra o "projeto".

Vemos que a Constituição preconiza um Estado laico, entretanto, constatamos o ensino religioso dentro das escolas. Inclusive, a maioria dos profissionais rezando dentro da escola, levando a religião, que já ocupa tanto espaço na nossa sociedade, tomar conta do espaço educacional. A escola deveria ser um espaço para se estudar as ciências, as artes e a Filosofia. Não deveríamos levar as nossas crenças religiosas, da esfera privada, para a esfera pública. Se ensinássemos as crianças e os jovens a arte da refletir, de fazer perguntas, e não colocássemos um monte de conceitos mofados, esclerosados e cristalizados pelos costumes( tantos arcaicos e ridículos), não teríamos o quadro que ora vemos.

Devemos preparar o cidadão para o mercado de trabalho, mas não podemos esquecer da sua dimensão humana. Não adianta nada a pessoa ser um excelente técnico, se não for capaz de ser um ser humano no sentido magnânimo dessa palavra. Deveríamos estimular os nossos jovens a fazer perguntas. As perguntas são muito mais importantes do que as respostas. Quem sabe fazer perguntas tem o poder da cidadania nas mãos. Queremos isso? Não. Queremos robôs. Simples!

De que adianta ser um especialista e saber tudo de uma área? O especialista sabe tanto de uma coisa, até saber tudo de nada. Uma pessoa que enxerga muito bem uma árvore, terá dificuldade de enxergar a floresta. Quantos de nós conseguimos ver as coisas no conjunto? Quem vê tudo de forma fragmentada não é capaz de relacionar nada. O status quo quer é isso mesmo. Enquanto não formos capazes de enxergar a floresta, seremos prisioneiros de políticos demagogos, religiosos fanáticos, e demais pilantras de plantão.

Texto: Marco Aurélio Machado

ONTOLOGIA MATERIALISTA!

Estou interessado numa ontologia materialista que fundamenta o ser social. Aquilo que nada mais é que o ser humano que se organiza para produzir a sua subsistência material. Viagens metafísicas servem para quê? Um conhecimento que não seja práxis não serve para nada. Não desejo saber da essência de coisa alguma; estou muito envolvido com as aparências; com o fenômeno material, natural, para ficar prisioneiro de conceitos ideais e sem correspondência com a realidade.
 

A única vontade que me interessa é a vontade das massas, que está adormecida. Massa alienada, vítima do idealismo ideológico que inverte a ordem do mundo. O homem mastiga ideias? Um conceito abstrato ou lógico enche a barriga de alguém? Uma fome teórica é igual à fome real?
 

Eu lhes digo que estou ficando cansado. O grau de alienação a que chegou a HUMANIDADE é de assustar. A reflexão, que deveria ser algo tão simples, ou seja, algo imanente ao ser humano pelo privilégio de ser racional, racionalidade adquirida no convívio social, está virando artigo de luxo. As pessoas não compreendem ou não querem compreender, que O PLANETA é nosso. De mais de seis bilhões de habitantes, todavia, estamos deixando uma minoria gananciosa destruí-lo. E o que fazemos? Assistimos e achamos que é natural. Esperamos uma salvação sobrenatural, que nos dê uma felicidade eterna. Mera ilusão...
 

E se houvesse uma nova forma de produzir? Uma produção baseada no respeito à natureza? Onde a HUMANIDADE produzisse só o necessário para a sua subsistência? E que as mercadorias não se tornassem obsoletas da noite para o dia? Haveria, com certeza, maior respeito entre os seres humanos; as relações sociais seriam mais fraternas e solidárias. Sobraria mais tempo para o lazer, a cultura, etc. O homem trabalharia para viver e não viveria para trabalhar como acontece hoje em dia. Toda a atual perversão tem a ver com a forma de produzir e de consumir. Se tudo se torna descartável, as relações entre as pessoas não poderiam ser diferentes. Descartamos seres humanos como descartamos os objetos. Pois é...

 

Texto: Marco Aurélio Machado

 

P.S: O MINISTÉRIO DO BOM SENSO INFORMA: DIGA NÃO ÀS PSEUDOCIÊNCIAS. ELAS NÃO SERVEM PARA NADA E ALIMENTAM A ILUSÃO DOS INGÊNUOS!!!

O FENÔMENO HUMANO!

Como viver no mundo natural, material, espaço-temporal e baseado em relações de causa e efeito, se o homem quer transcender o mundo dos fenômenos e se apegar a toda sorte de artifícios para não reconhecer aquilo que deveria ser o óbvio: a sua finitude? Há outro mundo que possamos conhecer e buscar, se não o conhecemos? Não é a recusa da própria destruíção e a falta de compreensão de só o fato de termos nascidos, já foi um grande acaso? Verdadeira loteria? E vivemos como se fôssemos seres tão especiais! Quanto desejo de sermos imprescindíveis!

Como viver num mundo sem muletas? Num mundo onde cada ser humano tivesse a responsabilidade de criar os seus valores. Um mundo em que a liberdade é ação, porque a liberdade só pode ser exercida literalmente na ação. Um mundo sem crenças sobrenaturais, mas acreditar na atitude dos humanos. Eu disse atitudes, comportamentos, não apenas discursos. Eis o convite ao humanismo. Não há nada a recorrer. Não há nada a se apegar. Não há nada que comprove qualquer existência sobrenatural. Só há o mundo fenomenal. E o convite humano. Sejamos apenas humanos?

Fazer o bem como um fim em si mesmo. Ajudar por ajudar, sem esperar recompensas, respeitar a natureza e compreender que somos apenas mais um no planeta e nem somos os mais importantes, porque o conceito de importância foi inventado por quem é muito suspeito: a vaidade humana. Ser desprezível que pensa ser o centro do UNIVERSO. Mas que pode deixar de ser desprezível se recuperar a sua essência. Não a essência metafísica, que tem uma suposta capacidade inata pronta para ser desenvolvida, mas uma essência que se confunda com a própria existência inserida no mundo e faz do mundo a sua morada com outros seres humanos.

No início teríamos algumas esquizofrênicos, mas não vejo saída para a humanidade, com a esperança no paraíso como prêmio para se conformar. Se não colocássemos esses valores desde a mais tenra idade na cabeça das crianças, não teríamos essa maldita alienação, que nos faz sofrer a todos. O mundo é a natureza, até que se prove o contrário. Não tenho o direito de imaginar e inventar coisas e seres sobrenaturais, que me colocarão numa gaiola. Posso entrar em outras gaiolas, mas minha reflexão e razão são a chaves para abrir as portas. E voar livre em outras direções e movimentos, apenas humano. ASSUMIR DEFINITIVAMENTE A NOSSA FINITUDE E FICAR FELIZ COM O QUE NOS ESPERA É O NADA.

Nada há na mente humana, a não ser o que se aprende. Não existe natureza humana, como essência. Culpa, remorso, arrependimento e outras crenças são formas de controle social. Até quando as pessoas vão fugir da realidade? Fazer as perguntas que todos deveriam fazer? Se não as fazem, alguém deve levá-las a fazer. Você pode me questionar, dizendo:"E você não está impondo valores?" Não! Estou dando uma arma para elas. Uma arma poderosa e que é patrimônio de todos os seres humanos, que se chama razão. Que tem na reflexão o poder de transformação. O que é melhor, levar a pessoa a refletir e, depois, se ela quiser, poderá escolher o seu caminho, ou deixar ignorantes, supostos intérpretes da palavra divina, fazerem uma lavagem cerebral na cabeça das crianças, quando elas não têm capacidade de discernir e aceitam tudo como se fosse verdade? Isso é uma covardia. Educar através do medo e da imaginação. Eu não deixei minhas filhas fazerem o catecismo. Para quê? Para observar um desgraçado, um idiota que não sabe nem onde está o seu nariz, dizer que tem a palavra de Deus? Um cego levando as crianças para a escuridão, em vez de levá-las a fazer perguntas, tão comuns nas crianças, que se espantam e se admiram com tudo?

As explicações devem ser naturais desde cedo e com uma linguagem adequada. Minhas filhas não têm medo e nem superstições. E fazem perguntas muito interessantes. Quando elas me perguntavam qualquer coisa, respondia com outra pergunta. Contudo, sei que isso é apenas um sonho. A humanidade não merece ser chamada de humanidade. Como diria Carlos Drummond de Andrade: "Peço que o meu nome retifiquem. Eu sou a coisa coisada".

Somos os únicos que pensamos que somos os únicos e esquecemos que somos tão únicos, que já deixamos de ser únicos e nos tornamos uma única massa homogênea. Pior: acéfala. Humanos?

Não somos quase nada, mas, infelizmente, muitos seres humanos se acham o centro do mundo. Somos o que aprendemos, mas temos capacidade de ir além, muito além do condicionamento imposto pelas nossas sociedades. Afinal, tal qual um espelho, a reflexão pode retomar as nossas crenças, valores, princípios, regras, costumes e leis e propor outras. É por isso que somos mais do que os animais. Somos natureza, mas também cultura...

Se os animais acreditassem num Deus, o mesmo seria a imagem e semelhança deles. Aliás, os gregos conheceram vários povos, porque tiveram que se lançar ao mar, devido ao tipo de geografia grega e do comércio que praticavam. Com essas viagens, constataram que cada povo tinha uma cultura, e que acreditavam em deuses conforme a sua semelhança. Inventamos. Naquela época, tudo bem. Mas, hoje? Não faz sentido!

Portanto, devemos tomar as rédeas das nossas vidas e procurarmos resolver os nossos problemas. O fenômeno humano é singular: pode fazer maravilhas ou causar tragédias terríveis. Viveremos só através dos instintos animalescos ou os transcenderemos e criaremos uma sociedade mais fraterna e solidária? A escolha? É nossa...


TEXTO: MARCO AURÉLIO MACHADO