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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O HOMEM: TRANSCENDÊNCIA NA IMANÊNCIA



A natureza, a meu ver, de forma absolutamente aleatória e contingente, tornou possível a existência humana. A existência do mundo e do ser humano não é, até onde se sabe, algo necessário. Diante do exposto, gostaria de refletir sobre a transcendência e a imanência humana, pois o homem é o único ser transcendente na imanência.

O interessante é que a transcendência humana acontece, mesmo para aqueles que têm uma concepção de mundo materialista, porque, para estes, aquilo que transcende ou vai além, não é uma alma imortal, que tem num tempo futuro a esperança de dar um adeus ao mundo imanente e, portanto, material, mas uma transcendência do intelecto na mais pura imanência: a relação corpo-mente como fenômeno natural e finito. A morte de um é necessariamente a supressão do outro e vice-versa.

Em outras palavras, é a transcendência no tempo e no espaço, logo em tudo o que é mundano e que “permanece”enquanto muda. A “impermanência” é a única “permanência” em tudo que é transitório e efêmero. Mera coincidência com o grande filósofo, Heráclito? O homem, que é feito da mesma “substância” do mundo e, que neste sentido, compartilha átomos com o universo, é consciente do que foi, pelo passado; do que é, pelo presente; e do que pode ser, pelo tempo futuro, portanto, pela imaginação, que nada mais é que a consciência antecipando o que não existe, em pleno tempo presente, o tempo futuro. A linguagem humana é a representação do tempo...

O homem, enquanto transcendência na imanência, torna-se alienado, ou seja, perde o contato consigo mesmo e tenta ser tudo o que não é: infinito, imortal, eterno. Em outras palavras, ao tentar ser infinito, imortal e eterno, o homem encontra-se com aquilo que mais teme: a própria morte. Afinal, o que é o infinito? A negação da finitude e deste mundo...O que é a imortalidade? A negação da transcendência intelectual em prol de uma dualidade suprafísica, numa palavra, a crença numa alma estranha ao corpo e que o habita pensando na “mansão das almas,” e na sua suposta volta um dia...O que é a eternidade? A ausência do tempo e da mudança, logo, a morte da própria vida como a conhecemos... A única que conhecemos...O que é a vida? A própria existência em movimento contínuo, criando-se e recriando-se num dinamismo simples e complexo!

O que seria o mundo e o homem sem o tempo e o espaço? Nada? Não, pois o que é o nada sem o ser humano que pergunta pelo NADA? Não tenho resposta, alguém se habilita? Só sei que o ser transcendente na imanência ( o homem) é pura contingência...

Enquanto vivermos, cabe a cada um de nós darmos significado à vida; não deixemos àqueles que abrem mão deste mundo, em prol de um suposto paraíso, dizer o que é melhor para nós, pois eles só sabem o que é melhor para suas contas bancárias...Alienaram-se deste e neste mundo e inventaram o sobrenatural para preencherem o vazio existencial que os perturbam. Estão mortos em vida, pois abriram mão deste mundo e preferiram um futuro antecipado pela imaginação: a senhora que escraviza o transcendente finito em prol do transcendente imaginário, ou seja, tudo o que não é humano, mundano, material, natural e finito. Pois é...

O homem, ser em estado de derrelição no mundo desde o nascimento encontra, nos pais, um amparo temporário, todavia deve buscar por si mesmo o sentido da vida sem a esperança de uma escatologia sobrenatural. O homem deve ser o meio e o fim do próprio homem. Meio, porque não vive sem o outro, e fim, porque só pode recorrer e compartilhar experiências em todas as dimensões humanas...

Texto: Marco Aurélio Machado

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

VOCABULÁRIO DAS ELITES E DAS MASSAS

Diferenças entre o vocabulário das elites e das massas


Infelizmente, não é incomum constatarmos a diferença entre o vocabulário das classes dominantes e a linguagem das classes mais humildes. Gostaria de fazer uma reflexão básica, elementar sobre tal assunto que, a meu ver, é de importância nuclear para quem tem um vocabulário rico e, portanto, domina e a pobreza do vocabulário das massas, que são dominadas. Vejamos o porquê a linguagem é tão importante.

Em primeiro lugar, por que será que tantos intelectuais defendem a ideia de que devemos respeitar a linguagem extremamente empobrecida das camadas mais humildes da população? Eles alegam que essas camadas se comunicam e que isso é o mais importante. Dizer, por exemplo, “nois foi”, “nois vai”, “a gente vamos”, e outras pérolas tão comuns, são consideradas uma parte cultural muito importante e que todos os tipos de comunicação devem ser respeitadas, e não apenas o padrão culto.

A quem interessa que o vocabulário das massas seja empobrecido? Por que essa “tolerância”? Por que os intelectuais que defendem essas teses não as colocam em prática no cotidiano, e, portanto, não falam “errado”? Essas são as perguntas que eu sempre fiz quando me deparo com “especialistas” de outras áreas que estudam a linguagem. Nunca me convenci de que por trás dessas “teses” não existissem ideologias a serviço da classe dominante. Se a palavra, a linguagem, o vocabulário distinguem o homem do animal; se só o homem é capaz de se situar no tempo pelo uso dos signos e dos símbolos, por que a defesa e a tolerância de uma linguagem que não se distancia do tempo e do espaço por ser reduzida em sua gama de sinônimos, convencem os “especialistas”?

Eu discordo. Um vocabulário pobre deixará as massas não apenas desprovidas de recursos materiais, mas, sobretudo, de recursos intelectuais. As massas, sem os recursos lingüísticos, que as camadas mais ricas da população possuem, serão dominadas e exploradas, tanto de um ponto de vista material como espiritual. Não vejo e ouço os ricos e a classe média alta não terem cuidado com o vernáculo. Por que será? Por que os USA dominam o mundo, inclusive, pela língua inglesa? Por que os ricos e a classe média alta aprendem outros idiomas? Por que todas as profissões técnicas e acadêmicas têm um vocabulário bastante especialiazado e profundamente técnico? Quantas pessoas refletiram sobre isso? Por que a maioria das pessoas procuram menosprezar a linguagem filosófica? Não será por ser ela uma das dinamites que detonarão esse discurso ideológico? Não será por que ela quer fazer uma terapia profunda sobre o significado das palavras e se preocupar com o rigor dos discursos? Pois é...Domina-se também pela violência "inocente" das palavras; troca-se o uso da força, tão comuns na nossa história, pelas palavras e frases bonitas. As massas, inclusive, se encantam com pessoas que falam bonito, desde que não sejam discursos muito longos...

O que me deixa mais perplexo é a tolerância de tantos professores de Português, que embarcam nessa ideologia nefasta. Um vocabulário rico por parte das elites é elogiado pelas massas, mas quando alguém de uma comunidade humilde enriquece o seu vocabulário e torna-se, por isso, capaz de ampliar a sua maneira de pensar, sentir e agir, inclusive, ajudando a mudar a realidade social, cultural e política de onde ela vive, os colegas e amigos costumam julgá-la alguém diferente e “metido à besta”. Ora, enriquecer o vocabulário das comunidades carentes e tolerar o mínimo possível que as pessoas se expressem de forma "incorreta", mesmo não sendo um padrão culto, seria o mínimo que poderíamos exigir. Não por ser “feio”, mas por causa do efeito perverso de dominação implícito nesse processo. As novelas e o telejornalismo poderiam ser grandes parceiros nessa luta, mas eles estão preocupados com isso? Duvido! E basta um pouquinho de reflexão e de bom senso para desvelarmos o que está oculto pela ideologia dominante. Num certo sentido, os que dominam são dominados também, porque apesar da riqueza do vocabulário, há pobreza de reflexão. E o que seria do capitalismo se a reflexão fosse algo corriqueiro? A sua própria ruína, pois comprar seria um ato saudável por pura necessidade e não porque as compras fossem influenciadas pelas propagandas de artigos supérfluos e pela moda do momento. Ter sempre muito bens ajudam a aparência, mas esvaziam a essência...

Evidentemente, que as aulas de Filosofia, Sociologia, História e Português são essenciais para que começássemos a mudar tal realidade. Uma linguagem rica, mas sem pedantismo, é um caminho crucial para que os nossos jovens carentes pudessem ser ricos pelo menos intelectualmente. A riqueza do vocabulário verbal e escrito, com certeza, é um dos recursos para a superação da pobreza em suas várias dimensões. E, principalmente, a Filosofia deve estar atenta em explicitar os pressupostos da exploração conduzida pela linguagem empobrecida e denunciar, inclusive, os especiliastas que estão a serviço da dominação e que muitas vezes não se dão conta da própria alienação!


Texto: MARCO AURÉLIO MACHADO