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domingo, 7 de agosto de 2011

O QUE É A LIBERDADE?

A palavra liberdade é de uma beleza singular. Sempre que eu penso nela, lembro-me dos pássaros voando num belo céu azul; das crianças brincando na areia e fazendo algazarras com a inocência e pureza que lhes são peculiares; dos cachorros e dos animais, em geral, "reproduzindo" as respectivas espécies sem culpa e vergonha; enfim, lembro-me da natureza com todas as suas belezas e horrores!!

Todavia, no parágrafo acima, a maior parte dos exemplos foi tirada da observação humana a respeito da natureza. As crianças não são apenas parte da natureza, elas aprendem regras, valores e normas, por isso, são também seres culturais. Se fosse possível deixar as crianças à vontade, provavelmente, cresceriam e se desenvolveriam sem culpas, remorsos e arrependimentos. Elas seriam "livres". Será? Eis o dilema humano. Encontramos no ser humano uma cisão, uma ruptura, um distanciamento da natureza. Ao criarmos uma moral, uma ética e as leis somos "forçados" a agir de acordo com os costumes e o aparato jurídico da sociedade em que estamos inseridos. Como, então, o homem pode se referir à liberdade? O que é a liberdade?

Há tantos conceitos de liberdade quanto o número de pessoas capazes de inventá-los e reinventá-los. Não tenho a pretensão de ter a última palavra sobre o assunto, mas vou tentar definir um conceito que me "agrada". A liberdade é a capacidade de o homem ser o senhor das situações dentro das suas possibilidades e limites. E quando me refiro à liberdade, estou me reportando a escolhas. O conceito de liberdade, uma teoria sobre a liberdade é tão fácil...O difícil é colocá-lo em prática, pois não existe liberdade apenas num plano intelectual, porque são as atitudes, os comportamentos e as ações humanas que vão conferir significado ao conceito e não o contrário.

Muitos filósofos se debruçaram sobre o assunto, entre eles, cito Kant e Sartre. O primeiro, preconizava que pôr um limite às paixões e aos desejos humanos, através da razão, é ser livre, pois o homem não é apenas natureza, mas também cultura. O homem livre, portanto, é aquele capaz de se impor limites, transcender os imperativos naturais, pois a razão é patrimônio universal, logo, devemos tratar o homem sempre como um fim em si mesmo e não como um meio. Kant dizia que devemos dizer a verdade em quaisquer situações, etc. Evidentemente, Kant escreveu muito mais a respeito da liberdade, no seu livro, "Crítica da razão prática". Mas não é minha intenção aprofundar neste assunto. Não vou escrever sobre o imperativo categórico kantiano. Fica o registro, neste texto, para futuras pesquisas dos interessados.

Sartre é o filósofo da liberdade por excelência. Não só por ter escrito muito sobre o assunto, mas por ter agido, segundo relatos que li, de acordo com a liberdade que preconizava. Aliás, Sartre fazia apologia de uma liberdade absoluta. Ficou famosa a sua frase: " A existência precede a essência". Para Sartre, o homem não tem a essência da liberdade! Sartre inverte os conceitos de essência e existência, porque ele fica "livre" da ideia de Deus. Para o filósofo existencialista francês, primeiro o homem existe no mundo, depois se define conforme às suas ações. Sartre não separa a teoria da prática. Ao escolher (agir) o homem realiza a sua liberdade e os seus projetos. O homem não é mais do que aquilo que ele faz. Sartre foi um dos ícones do existencialismo, corrente filosófica contemporânea de meados do século XX.

A meu ver, não é fácil ser livre. A liberdade humana carrega um "fardo de aço" de responsabilidade. Ser livre, teoricamente, é muito fácil. O difícil é realizar a liberdade em ato. Ser livre não é só a ausência de um obstáculo físico, ficar preso numa cadeia, por exemplo. Penso que a maioria das pessoas está presa, mesmo em uma suposta liberdade de "ir e vir".

Como ficar livre dos desejos mesquinhos, das crenças e superstições infundadas, do medo da morte, da culpa, do remorso e do arrependimento? Como ser livre, numa época em que queremos ter o último carro do ano (não tenho carro e ando de ônibus, não sei dirigir e nem sei se vou aprender um dia), dos celulares, televisores, computadores, roupas de grife, relógios caros ? Como ser livre do desejo de posse do companheiro(a)? Como ser livre dos meus próprios fantasmas psicológicos e emocionais? Como ser livre dos deuses que criamos e esquecemos que fomos nós quem os inventamos? Como ser livre da propaganda consumista que nos escraviza a todos? Bom, eu poderia citar vários outros exemplos, inclusive, os relacionados à depressão. Entretanto, este texto precisa ter um fim! Pois é...

Penso que antes de qualquer coisa, devemos ser livres, ao menos, para ter a paciência de refletir sobre a liberdade, pois as pessoas procuram tantas distrações, que morrem de medo de mergulhar na própria "alma". De minha parte, preciso refletir muito sobre a tal liberdade. Se eu conseguir ficar livre de muitos preconceitos, já me sentirei um vitorioso. Dentro do possível, sou livre da maioria das crenças, desejos e superstições, que atemorizam a maioria dos seres humanos. Se a razão e a força de vontade não podem tudo, eu, felizmente, só posso contar com elas...Não me sinto livre para fazer tudo o que desejo, mas sou livre para não fazer tudo o que desejo! Paradoxal? O homem é um ser paradoxal por excelência, ora!!! Não temos desculpas, mas sempre as inventamos para não termos que escolher, afinal, dói tanto a angústia da liberdade, não é? Imagine a situação de Sócrates...

Texto: MARCO AURÉLIO MACHADO